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  • Enchentes no Rio Grande do Sul: um verdadeiro teste para o ‘DNA ético’ das empresas, por Andiara Petterle

    Enchentes no Rio Grande do Sul: um verdadeiro teste para o ‘DNA ético’ das empresas, por Andiara Petterle

    As recentes enchentes no Rio Grande do Sul não são meramente um desastre natural; elas desencadeiam um momento decisivo para o setor empresarial, uma verdadeira prova de fogo para a autenticidade dos valores que as empresas professam. Nestes tempos críticos, a reação das corporações não somente revela sua capacidade de resposta, mas também escrutina a coerência entre suas promessas públicas e suas ações reais.

    À medida que as águas invadem, é a autenticidade dos valores corporativos que enfrenta o verdadeiro dilúvio. A reação das empresas não apenas revela sua prontidão para responder, mas coloca em xeque a sincronia entre o que pregam e o que praticam. Não basta à moderna expectativa dos stakeholders a solidariedade episódica. Investidores, consumidores, funcionários e a sociedade exigem mais: ações concretas que reflitam o ethos proclamado pelas empresas. O desafio não é só mitigar danos, mas integrar práticas sustentáveis e éticas ao core business, preparando as empresas não apenas para responder com eficácia, mas com empatia.

    O artigo de 2021 do professor Leo E. Strine Jr, “Restoration: The Role Stakeholder Governance Must Play in Recreating a Fair and Sustainable American Economy”, chama a atenção para esta virada de mesa.

    As crises são o espelho da legitimidade corporativa: as empresas estão realmente alinhadas com as demandas de um mercado global e consciente?

    As enchentes são uma chance para as empresas demonstrarem que sustentabilidade não é só parte da retórica de relações públicas, mas um componente indissociável de sua estratégia e operação. É o momento para as empresas não apenas agirem em benefício próprio, mas avançarem numa governança que equilibre responsavelmente os interesses de todos os stakeholders. Agora, a sociedade observa. E julgará as empresas não só pelas águas que conseguem conter, mas pelas pontes que conseguem construir.

    A mobilização de diversas empresas em resposta às enchentes no Rio Grande do Sul demonstra um compromisso notável com a recuperação da região e o bem-estar das comunidades afetadas. Companhias aéreas como Azul e Latam têm desempenhado papéis cruciais, com a Azul instalando postos de arrecadação em seus aeroportos e lojas, e a Latam ativando seu programa “Avião Solidário” para transportar doações sem custo. Da mesma forma, o Sicredi tem utilizado sua rede de cooperativas para facilitar a arrecadação de doações via PIX, destacando a flexibilidade e rapidez das cooperativas financeiras em responder a crises, além de doações significativas. No setor da saúde, a Cimed contribuiu com a doação de medicamentos e apoio financeiro, mostrando a importância do suporte contínuo às necessidades médicas das vítimas. Essas iniciativas são complementadas pela ação estratégica da Ambev, que adaptou suas linhas de produção para envasar água potável, evidenciando um esforço que transcende o apoio logístico e se alinha profundamente com seus valores corporativos de responsabilidade social.

    Adicionalmente, a sinergia entre as ações governamentais e corporativas, como as medidas tributárias e fiscais implementadas pelo governo do Rio Grande do Sul, ilustra a importância de uma abordagem colaborativa. Essa cooperação não só acelera a recuperação econômica e social das áreas afetadas, mas também destaca a necessidade de políticas públicas que facilitem e incentivem a participação empresarial em esforços de recuperação e reconstrução.

    A robustez da governança corporativa transcende as funções tradicionais de controle e decisão, destacando-se como um pilar fundamental para a capacidade de uma empresa responder eficazmente a crises. Governança eficaz significa mais do que simplesmente gerir recursos; implica na habilidade de mobilizá-los rapidamente, planejar com visão de futuro e implementar ações que não apenas resolvam problemas imediatos, mas que também promovam a recuperação e a resiliência das comunidades no longo prazo. As empresas que possuem sistemas de governança sólidos demonstram não apenas preparo e adaptabilidade diante de desafios inesperados, mas também um compromisso contínuo e genuíno com os valores e expectativas da sociedade.

    Essa capacidade de governança vai de encontro à oportunidade de as empresas demonstrarem liderança visionária, especialmente em tempos de crise, como no caso das enchentes. Revisando e fortalecendo seus propósitos corporativos, as empresas têm a chance de liderar pelo exemplo, mostrando não apenas solidariedade, mas também um compromisso profundo com a reconstrução de um futuro mais justo e seguro. A forma como uma empresa responde a crises pode refletir profundamente sua adesão aos valores que declara, moldando sua trajetória e reputação de longo prazo. Ao assumirem a liderança durante períodos turbulentos, as corporações podem definir o padrão para outros seguir, reafirmando o seu papel não apenas como agentes econômicos, mas como verdadeiros pilares de estabilidade e progresso em suas comunidades.

    As enchentes no Rio Grande do Sul servem como um lembrete potente das vulnerabilidades humanas e ambientais e representam um teste definitivo para a integridade corporativa. Este evento desafiador oferece às empresas a chance de reafirmar seus compromissos com práticas responsáveis e proativas, demonstrando que são mais do que meras entidades econômicas; são pilares fundamentais para o bem-estar global e agentes de mudança na promoção de um desenvolvimento sustentável e equitativo.

    Ao explorar essas facetas, aprofundamos nossa compreensão sobre a transformação no papel das empresas no século XXI, destacando-as como agentes cruciais para enfrentar desafios globais através de ações que são essenciais não apenas para sua sobrevivência e sucesso, mas também para a saúde e a vitalidade das sociedades em que operam.

    Andiara Petterle atua como conselheira de administração em diversas empresas no Brasil e América Latina, e é professora de Transformação Digital no IBGC. É doutoranda na Business School Lausanne e possui especializações da Stanford University e Berkeley Law.

  • Cresol promove convenção com olhar para o cooperado no centro das decisões

    Cresol promove convenção com olhar para o cooperado no centro das decisões

    Evento teve como propósito inspirar ações a partir do tema “No centro da cooperação, pessoas transformam possibilidades em realidade”

    No dia 21 de outubro, a Cresol promoveu sua convenção, reunindo cerca de 1.700 mil colaboradores da Central Cresol Baser e da Cresol Confederação. O evento, realizado em Florianópolis (SC), teve como propósito inspirar ações que priorizem cada vez mais o cooperado no centro de todas as decisões, temática que tem se replicado na atuação da cooperativa durante o ano de 2023.

    Na abertura, o conselheiro da Cresol Confederação e presidente da Central Cresol Baser, Alzimiro Thomé, ressaltou a importância de se estar presente na vida do cooperado. “Vamos olhar cada vez mais para os cooperados em seus micromomentos, que se tornarão macro para eles. E temos que estar preparados para atendê-los em todas as suas demandas, por isso nos planejamos, para melhorar sempre”.

    O vice-presidente da Cresol Confederação e diretor superintendente da Central Cresol Baser, Adriano Michelon, relembrou a trajetória da cooperativa. “Há 26 anos, tivemos a primeira convenção da Cresol com 7 colaboradores. E hoje temos esse momento, de construção coletiva, de reunir milhares de colaboradores que atendem milhares de cooperados, para construir uma Cresol muito mais forte”.

    A partir do tema oficial da convenção — “No centro da cooperação, pessoas transformam possibilidades em realidade” —, Michelon conduziu uma conversa com colaboradores de diversos estados do Brasil que contaram suas experiências na Cresol e compartilharam iniciativas inspiradoras. As histórias geraram identificação, provocaram riso e também emocionaram os participantes.

    Na sequência, subiu ao palco o ator, diretor, produtor e dramaturgo ou, por definição própria, “autor de si mesmo” Miguel Falabella. Com humor e muitas referências de seus mais de 30 anos de trabalho, ele trouxe questões que provocaram nos participantes reflexões comportamentais sobre a relação entre sonhos e vida, no âmbito social e profissional.

    E, para encerrar a Convenção 2023, os colaboradores receberam a visita da atriz Camila Morgado, embaixadora da Cresol e protagonista da campanha institucional neste ano.

  • Intercooperação: competição ou cooperação? por Silvio Giusti

    Intercooperação: competição ou cooperação? por Silvio Giusti

    Ultrapassando as barreiras de ser apenas uma atual demanda do mercado, a intercooperação ressurge chamando a atenção para a necessidade de autoanálise das cooperativas e da urgência de aplicar esse princípio de forma efetiva.

    “Pare de querer inventar a roda”. Essa frase simples, mas ao mesmo tempo provocativa, tem sido muito repetida para inúmeras finalidades e em inúmeras situações. Mas faz sentido parar de pensar no novo em um período tão “tumultuado” de ideias e que segue um ritmo frenético de novidades? A resposta é sim. Chegou o momento de aceitar que não há avanço sem autocrítica. Esse é o grande norte da atualidade.

    Trazendo essa linha de pensamento para um cenário de fácil exemplificação, temos essa máxima aplicada no mercado. Esse que rege os rumos dos negócios e as demandas da sociedade. Nele, a concorrência nunca foi tão grande. Uns dizem até cruel. Mas o fato é que ela existe e não irá mudar. Então, o que fazer perante a isso?

    Está cada vez mais difícil diferenciar produtos e serviços oferecidos e, com isso, a capacidade de se arriscar é o fator que passou a trazer o resultado mais efetivo. Ainda, é vivido um período em que esses resultados não podem mais aparecer apenas em 5 ou 10 anos, exigindo ações mais consistentes e imediatas.

    Seja resgatando históricos ou analisando o momento presente, não se pode falar de negócios sem falar de cooperativas. Sabe-se bem que não é a primeira vez que o cooperativismo é pressionado pelo mercado, assim como tantas outras empresas, mas a agora as consequências se tornaram mais rápidas e cada vez mais visíveis. Dentro disso, a intercooperação ressurge da necessidade de reflexão a respeito do potencial coletivo acima de soluções individuais – para velhos e novos desafios – e principalmente, para estimular um senso de oportunidade dadas as atuais circunstâncias.

    Por uma questão de sobrevivência, as cooperativas – sejam quais forem os seus ramos – devem ter um olhar constante para o que acontece fora de seus muros. O que o mercado está fazendo? Quais são as principais tendências do momento? De fato, entender o contexto em que elas estão presentes é de extrema importância. Mas para saber onde chegar, se faz necessário saber onde está. E é neste quesito, que a autoanálise se coloca como um movimento indispensável. “A cooperação efetiva é o caminho para as cooperativas enfrentarem os seus concorrentes. Embora eu diga que antes de enfrentar os concorrentes é preciso com que as cooperativas se reposicionem e se comparem consigo mesmas. Como que a cooperativa pode ser melhor do que ela foi ontem? Como são as aspirações, as necessidades do quadro e cooperados de quando foi constituída a cooperativa e atualmente?”, explica o especialista em cooperativismo, Silvio Giusti.

    De um lado, cases de sucesso já mostram na prática como a intercooperação pode trazer resultados, quando há o real engajamento a seu favor; e, de outro, estes mesmos exemplos reforçam a pergunta: por que não fazer mais? “Nas cooperativas e no mundo dos negócios é comum utilizarmos parceiros, porque não somos especialistas em tudo. Veja nosso caso na Unicred onde a Visa é nossa parceira para cartões. O trabalho entre cooperativas não pode ser diferente, se há um assunto que podemos ser parceiros e com isso, as próprias cooperativas conseguirem dar mais celeridade aos avanços, reduzirem custos e entregarem aos seus cooperados mais vantagens, não há por que não fazer. Tem de ser incentivado ao máximo”, destaca Dr. Remaclo Fischer Junior, presidente da Unicred.

    Globalmente, não são poucos os exemplos onde a intercooperação se firmou como o caminho para um cooperativismo sustentável do ponto de vista de iniciativas e no quesito econômico. Com o aumento da presença física, característica marcante do setor, multiplicam-se também os custos operacionais. Mas realmente esta é a única opção? Nos Estados Unidos, as cooperativas de crédito possuem de forma conjunta, uma vasta rede de caixas eletrônicos distribuídos por todo o país. Sem a necessidade de que cada sistema cooperativo possua seus próprios caixas, eventuais custos são mitigados, dando espaço para que os recursos sejam administrados em outras áreas de maior necessidade para a cooperativa e para os cooperados.

    Em território nacional, a situação se desenhou um pouco diferente no decorrer do tempo. Ainda com uma ascensão admirável, mas com alguns pontos a serem ressaltados. “O cooperativismo cresceu muito nos últimos anos, em especial pelo movimento das cooperativas. Quando, na verdade, se houvesse intercooperação, haveria um compartilhamento de resolução de dores para produtos, serviços com maior eficiência e com uma definição mais estruturada dos pontos de atendimento. Hoje mais da metade dos municípios possuem uma cooperativa de crédito, mas a outra metade não tem. Se houvesse um processo de intercooperação, poderíamos ter uma cobertura territorial maior e com menos custo para as cooperativas. Nesse sentido a intercooperação faz falta, mas um dia poderíamos ter outros padrões, como por exemplo o cooperativismo de crédito alemão”, frisa Tiago Schmidt, Presidente do Conselho de Administração da Sicredi Pioneira RS.

    Atualmente, o cooperativismo brasileiro impacta 20 milhões de pessoas, portanto, não é um negócio inexperiente que começou ontem. Mas isso não pode impedir de pensar além e explorar potenciais que – como a própria doutrina diz – possuem muito mais força na coletividade.  A intercooperação praticada hoje é apenas a ponta de um iceberg de possibilidades. Mas o tempo está correndo. E ignorar tal temática pode custar caro.

    “Não é uma questão de ser cooperativa grande ou pequena. Mas sim, a responsabilidade das cooperativas de terem iniciativas que vão ao encontro dos associados e ao encontro dos princípios e valores do cooperativismo”– Tiago Schmidt

    Uma Conversa Necessária

    Em recente encontro realizado pelo Banco Central, Harold Espínola – Chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias no Banco Central do Brasil – fez um apelo às cooperativas, buscando reafirmar a necessidade de um maior diálogo entre o setor, de se fazer presente a intercooperação e a mitigação de uma competição não saudável dentro do movimento.

    Mesmo diante de números que impressionam até mesmo quem vivencia o cooperativismo no dia a dia, a percepção de que a falta de intercooperação está impactando o desenvolvimento tem sido cada vez mais difundida. Para Remaclo, são diversos os fatores que tornam necessária que essa prática saia do papel em caráter urgente. E uma delas, reflete exatamente na força do setor perante o mercado. “A sinergia que surge da intercooperação faz o setor caminhar mais rápido, aumenta o potencial de cada uma das cooperativas, já que cada uma tem suas qualidades e questões em que estão mais avançadas e, sobretudo, posiciona a indústria de uma forma mais forte”, destaca.

    Além disso, os custos para manter a roda girando, tem sido cada vez mais elevados. E essa realidade não se restringe ao cooperativismo, sendo observada no mercado como um todo como fruto de fatores internos e externos. Com o aumento dos gastos operacionais, buscar alternativas que garantam a manutenção do modelo atual enquanto equilibram as contas do setor é um passo que não pode ser adiado. E a intercooperação, se praticada da forma correta, tem a capacidade de ser a solução para essa problemática.

    Moacir Krambeck, presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito – Confebras, ressalta que os custos elevados não são um problema apenas no futuro do setor, mas também no presente, e afirma que uma sólida iniciativa de intercooperação pode ser a saída diante dessa realidade. Para Krambeck, buscar essa conexão e singularidade não apenas tem a capacidade de trazer equilíbrio, mas também de potencializar o setor. “Ela será de suma importância para que cooperativismo tenha preços mais competitivos. Ganharíamos muito pela escala, e não só por isso, mas também na compra em conjunto de produtos que são comuns as cooperativas”, analisa.

    Diante do alerta do BC no encontro promovido em junho, é possível identificar possíveis fatores que motivaram tal conversa. Segundo Giusti, a simples atitude do Banco Central em convocar o setor, é um sinal de alerta e reafirma a urgência que a temática tem adquirido nos últimos meses. “É um sinal de alerta não na cor amarela, mas já com a tonalidade vermelha. Já perdemos muito tempo em “não fazer” a devida cooperação e não acessando as tantas oportunidades que existem e que são reais. Já há inclusive estudos demonstrando os milhares de reais que poderiam ser economizados por um lado e por outro, a enormidade de estruturas que poderiam ser reduzidas”, frisa.

    Com um “puxão de orelha” do órgão máximo do setor financeiro, as cooperativas têm agora a missão de materializar todas as promessas e discursos fomentados ao longo dos anos. Afinal, até quando a intercooperação pode esperar? “A lição que fica do Banco Central para as lideranças setor é que a gente precisa sair do discurso. Ele é coerente, é racional. Nós, inclusive, temos muito claro o que precisamos fazer. Mas a gente precisa ir para o ambiente das atitudes e esse é o ambiente que estão nos chamando. O ambiente de fazer materializar o princípio da intercooperação”, completa Giusti.

    Oitavo Princípio

    Ao seguir utilizando o ramo crédito como grande objeto de exemplificação, é possível notar dados curiosos. Hoje, as instituições financeiras cooperativas têm uma taxa de crescimento muito boa e em ascendência, mas quem tem se tornado a régua que puxa o crescimento da carteira nacional ainda são os bancos digitais. E o que isso quer dizer? Que analisar a concorrência e reconhecer seu alcance também precisa fazer parte das estratégias.

    Durante o 4­º Fórum Integrativo Confebras, realizado em agosto, Harold Espínola trouxe essa constatação à tona em sua palestra. “O crescimento de instituições digitais relevantes se dá de forma orgânica, de um cliente para outro, fazendo o que as cooperativas sempre fizeram, mas fazendo de uma forma mais assertiva, sabendo exatamente o que dizer e o que oferecer para que esse cliente construa uma visão positiva da marca”, ressalta.

    É muito difícil falar do sistema financeiro sem ao menos lembrar do caso da Nubank. Instituição que em 10 anos alcançou 80 milhões de clientes apenas no Brasil, se tornando a quarta maior instituição financeira do país. E como acentuou Espínola, de forma orgânica. Para as cooperativas, uma solução para igualar esse alcance seria aumentar o índice de “exploração” dos cooperados que já fazem parte daquele negócio. “Existe um problema de endomarketing, de perder oportunidade dentro de casa, e existe um problema de marketing para fora porque, posso afirmar, é baixo o conhecimento do cooperativismo por agentes com poder de decisão. Isso é um problema do sistema, não do sistema A ou sistema B”, alerta Harold, também na ocasião.

    O cooperativismo nasceu com o poder do convencimento de sua viabilidade e é justamente comunicar isso ao seus cooperados, alimentando de forma positiva suas experiências, que vai garantir a continuidade desse grande negócio. “Quando eu recebo menos do que eu espero, começo a perceber o que os outros também estão me oferecendo. Você pode até oferecer, mas se eu não perceber isso, para mim é negativo. E se eu for embora, fazer voltar é muito mais difícil”, acrescenta o representante do BC.

    Mas e a intercooperação nessa história? É através dela que os agentes cooperativos vão alcançar efetivamente outro patamar. “A comunicação tem um papel muito importante que deveria ser analisada com outros olhos pelas cooperativas. Projetos que são iguais, por exemplo, mas que recebem nomes diferentes sendo o mesmo projeto, acabam dificultando a compreensão e o entendimento por parte da população. Quanto mais a gente acelerar a padronização de alguns nomes perante o mercado, maior será o entendimento da população”, responde Tiago Schmidt.

    Tanto para conquistar novos cooperados e expandir o movimento quanto para enfrentar de igual para igual a concorrência, a intercooperação se tornou inadiável. A famosa “carta na manga” que todo modelo de negócio busca. Entretanto, o posicionamento atual precisa ser questionado, assim como decisões tomadas e, principalmente, ações que não estão sendo realizadas.

    Decisão, comunicação e intercooperação. Os três fatores que se tornaram o denominador comum do progresso para as cooperativas. É hora de se desprender de paradigmas e verdadeiramente se comunicar antes de comunicar. “Temos iniciativas como o Diálogos de Intercooperação (debate que acontece durante o CoopTalks Crédito, realizado anualmente pela MundoCoop), que promovem esse movimento e possuem a pretensão de movimentar e conectar lideranças que busquem a intercooperação, para que se criem espaços onde possam ser analisadas oportunidades reais com profissionalismo”, conta Silvio Giusti.

    “Queiram ou não a intercooperação acontecerá invariavelmente”– Moacir Krambeck

    Intercooperar na Prática

    A realidade mercadológica está traçada. Assim como a urgência de uma atitude intercooperativista. Mas por onde começar?

    Em conversa, Silvio Giusti relata que dados do Sistema OCB revelam que existe sim uma intercooperação entre os ramos, porém que, em sua grande maioria, fica por volta de 15 a 20% apenas. Ou seja, há um universo de oportunidades a serem exploradas. “Temos aí casos isolados, iniciativas pequenas ou grandes. Mas precisamos realmente transformar isso numa questão sistêmica. A intercooperação é um princípio, e não deve ser tratada como opção. A cooperativa, na fase de cooperação, às vezes não faz o que deve ser feito e aí já se consiste em um erro”, diz ele.

    Moacir, por sua vez, reafirma que o movimento tem tudo que precisa, nos mais diversos sistemas. “Porque não analisarmos o que temos e viabilizar a todos os cooperados? Cooperados adquirindo produtos e serviços de cooperados. Urge que se tomem atitudes urgentes, caso contrário o processo não será pelo amor, mas sim pela dor“, finaliza.

    Internamente nas cooperativas, a intercooperação precisa ser mais do que uma ideia perpetuada, se tornando uma ação concreta e isso passa, necessariamente, por questões estruturais. A criação de áreas responsáveis pela intercooperação precisa ser algo estratégico e esse cenário passa pelo papel dos líderes, que precisam estar conscientes desse carecimento.  “Quanto mais as lideranças encaminharem esse comportamento com os colaboradores, mais os colaboradores, no grande papel que eles têm de educadores dos associados, estarão promovendo também a ampliação desse conhecimento e de forma natural, essa inter-relação entre diferentes cooperativas. Numa mesma praça, ela passa a ser muito mais agregadora do que competitiva”, complementa Schmidt.

    Sistematicamente, isso precisa seguir o mesmo pressuposto. Silvio acrescenta que esse debate não pode ser eventual e para existir uma transição, é preciso existir uma agenda que estimule o diálogo entre os diferentes ramos do cooperativismo, que engaje a liderança a se dedicar e estudar estrategicamente a intercooperação. Complementando o tópico, Tiago Schmidt destaca que esse relacionamento mais próximo também vai ser uma etapa importante a ser vencida. “Não é possível intercooperar se os atores do cooperativismo não se conhecerem. Então, nesse momento eu acho muito importante. Primeiro pela regulação de mercado. Segundo, pela expansão da base de associados e negócios das cooperativas. E terceiro, porque com esse movimento, cada vez mais as pessoas vão se conhecendo e com isso, a tendência é que nós estejamos cada vez mais próximos de um processo de intercooperação mais maduro e eficiente entre as cooperativas e os sistemas”, conclui.

    “Se hoje as cooperativas estão prontas ou não para o novo mercado que se desenha, quero insistir no pensamento de que, se ela estiver fielmente vinculada à sua essência, há uma enorme chance da cooperativa ser relevante e ter a sua perenidade e sustentabilidade garantidas”– Silvio Giusti

    Resgate do Movimento

    Não importa o tamanho ou o ramo de atuação, tudo que acontece em uma cooperativa tem impacto no cooperativismo. Para o bem ou para o mal. Se há possibilidade de ampliar a dimensão da primeira opção, não há motivos para não fazer acontecer. Mas levar a sério, quase que ao pé da letra, é essencial. Intercooperação não é mera parceria, é o futuro.

    Acima de vaidades individuais, a escolha pelo modelo cooperativista precisa ser legítima para quem vai adentrar esse negócio e para aqueles que já estão nele, atuando enquanto carregam esse codinome tão forte e importante. “O cooperativismo dorme em berço esplêndido suportado pela sua filosofia. Mas não é só de filosofia que vive a humanidade, mas sim de atitudes voltadas a qualidade de vida. É preciso parar de exagerar na valorização das instituições, elas sempre serão a consequência”, discorre Moacir Krambeck.

    Para que os resultados de uma intercooperação efetiva se materializem, é preciso pensar além, colocar palavras em prática e entender que apenas através desse novo modo de atuação é que a longevidade do movimento como um todo será assegurada. Não de uns ou outros, como um todo.

    A partir desse movimento, o setor tem a capacidade de expandir sua atividade com uma estrutura mais concisa e construída a partir das contribuições de cada sistema e ramo. “Adicionalmente, o quanto de convergência e qualidade e de racionalidade de melhoria dos processos poderiam vir por meio da intercooperação? O que isso significa? Significa eficiência operacional, eficiência do seu próprio propósito. É disso que nós estamos falando e este alerta busca nos fazer sair das zonas de conforto de atuação para estimular o nosso setor, que é tão relevante dentro do contexto nacional”, conclui Silvio.

    A partir de agora, a tratativa dada a tais comentários do BC, e tantos outros motivos para apostar na intercooperação, definirá até onde o cooperativismo poderá se desenvolver. Caberá apenas ao próprio setor, a escolha de atender ao chamado, ou tratá-lo apenas como mais um tópico à mesa. Seja qual for a escolha, um fato está sedimentado: as decisões e ações determinadas na atualidade, serão o ponto de virada para todas as cooperativas. Queiram elas ou não.

    “Hoje as lideranças nas cooperativas têm entendido a importância e as grandes vantagens da intercooperação. A tendência é esse processo ser cada vez mais presente e em questões cada vez mais relevantes”– Remaclo Fischer

    “Avançar na intercooperação ganhou cunho inadiável”

    Dando continuidade a essa discussão, a MundoCoop também conversou com exclusividade com o Chefe do Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições Não Bancárias no Banco Central do Brasil, Harold Espínola, sobre mais questões a respeito da intercooperação! Confira aqui!

    Por Fernanda Ricardi e Leonardo César – Matéria exclusiva publicada na Revista MundoCoop Edição 113

    Fonte: mundocoop.com.br

  • COVID 19: Por que o cooperativismo (principalmente o financeiro) se torna relevante em tempos de adversidade?, por Giovana Pedroso

    COVID 19: Por que o cooperativismo (principalmente o financeiro) se torna relevante em tempos de adversidade?, por Giovana Pedroso

    A cooperação nunca fez tanto sentido quanto nos dias que estamos vivendo. A palavra “cooperar”, no seu sentido mais puro, é operar em conjunto. É a ação coletiva em prol de um sonho ou objetivo comum. É diferente de colaborar. Esses dois verbos são comumente confundidos, mas a colaboração não pressupõe o “almejar” junto.

    Em tempos de pandemia, um cenário jamais vivido ou sequer imaginado pela maioria de nós, a cooperação é uma condição essencial. Devemos sonhar, acreditar e agir juntos para que tudo isso passe rápido e deixando o menor dano possível.

    No sul de Santa Catarina, uma empresa doou mais de 20 mil máscaras para um hospital. Nacionalmente, uma empresa não produzia, mas se dispôs a fabricar álcool em gel neste momento. A imprensa também mostra médicos que, voluntariamente colocam-se à disposição para trabalhar na linha de frente dos atendimentos. Já nas redes sociais, “viralizaram” as fotos de cartazes em portas de apartamentos, com jovens colocando-se à disposição de idosos para irem ao supermercado por eles. Até mesmo as nações que já decidiram fechar fronteiras! Tudo isso, neste momento, é cooperar. É atuar em conjunto por um objetivo em comum: frear o vírus, preservar vidas, resguardar o nosso sistema de saúde e, consequentemente, a economia.

    A propósito, embora seja importante não perder de vista esses bons exemplos, não dá pra fechar os olhos para o impacto financeiro provocado pelo novo coronavírus. Então, é válido o recado: não deixe de comprar dos pequenos estabelecimentos que oferecem os serviços essenciais. Se possível, com o apoio da tecnologia bancária, não deixe de pagar a diarista, a academia… tente da sua maneira e, dentro das suas possibilidades, manter a roda da economia girando.

    Olhar para o outro com preocupação verdadeira e não abandonar o associado em momentos de maior dificuldade, é algo que as cooperativas financeiras historicamente fazem bem. E isso tem uma explicação histórica. A maioria dessas instituições nasceu, justamente, em momentos de adversidade e escassez de recursos.

    Sistemas cooperativos anunciam medidas emergenciais para os sócios

    O Sicoob, por exemplo, anunciou nesta semana que está abrindo uma linha de crédito para atender os cooperados afetados e que vai reestruturar, e não simplesmente adiar, o prazo das operações em curso.

    O Sicredi adotou a postura de prorrogar operações de crédito e manter suas linhas ativas, avaliando com cuidado caso a caso, para dar suporte aos associados e manter a atividade econômica. Uma das cooperativas vinculadas a esse sistema, a Sicredi Pioneira do Rio Grande do Sul, anunciou ações de crédito emergenciais para o setor turístico, uma cadeia produtiva das mais afetadas pelo vírus.

    A Unicred Sul Catarinense, umas das cooperativas vinculadas à Unicred, oferecerá aos seus cooperados com obrigações em dia, uma carência de até 90 dias para voltar a pagar os empréstimos. Eles terão duas opções que serão expostas pelos gerentes de relacionamento, caso a caso, aos próprios sócios.

    Valorizar o posicionamento destes sistemas e dos demais que ainda irão se pronunciar, é reafirmar, em tempos de adversidade, a relevância do cooperativismo para o Sistema Financeiro Nacional.

    Giovana Pedroso é jornalista e especialista em gestão de cooperativas de crédito pela USP/ESALQ.

  • Evento reforça papel da comunicação para disseminar valores do Sicoob

    Evento reforça papel da comunicação para disseminar valores do Sicoob

    Para fechar 2019, o Sicoob Confederação realizou mais uma edição do Comunicar, evento que reuniu em Brasília mais de 250 representantes das áreas de Marketing e Comunicação de cooperativas de todo o País. O evento celebrou as conquistas, indicou direcionamentos para o próximo ano e valorizou os projetos de fortalecimento do Sicoob como um sistema integrado, diferenciado das demais instituições financeiras por focar em valores mais humanos como Pertencimento, Cooperação, Justiça Financeira e Responsabilidade Social. Durante os dois dias foram apresentadas as principais ações realizadas pelas áreas de Marketing, Comunicação e TI, bem como as novidades das áreas de Seguros, Produtos e Serviços e o trabalho do Instituto e da Universidade.

    Logo na abertura, Reposse Junior, diretor de Desenvolvimento e Supervisão do Sicoob Confederação, ressaltou a importância do trabalho de comunicação para o Sicoob atender a expectativa do Banco Central e fazer com que as cooperativas financeiras saiam dos atuais 8% de market share de crédito para 20% até 2022.

    “Em 2019, entregamos dois pedidos antigos das cooperativas: uma campanha publicitária nacional e um patrocínio esportivo de peso”, comemorou. “O investimento no Brasileirão era um anseio antigo das cooperativas e expôs a marca Sicoob em circuito nacional. E deve ser repetida em 2020”, ressaltou Reposse. “Mas o mais importante é que foram duas ações feitas em conjunto, com a aprovação e colaboração de todas as centrais”.

    Já a campanha Somos Feitos de Valores, que está no ar desde o início de novembro, divulga de Norte a Sul do Brasil o verdadeiro DNA do Sicoob por meio de peças em TVs aberta e fechada, rádios e redes sociais. Marcelo Vieira, executivo de Comunicação e Marketing do Sicoob Confederação, resumiu o objetivo: “queremos criar uma identidade de marca em todo o Brasil, fortalecendo os princípios e os valores da Instituição, pois são eles que diferenciam o Sicoob dos bancos. Vamos mais longe ao fazer de forma colaborativa e compartilhada”. Estes valores – tão almejados por todos atualmente – estão na essência do cooperativismo desde sempre e foram o tema do evento, permeando o discurso e os exemplos dos palestrantes.

    Vieira também apresentou as principais diretrizes do planejamento estratégico para 2020, buscando preparar os profissionais para este novo momento do mercado. Ações de exposição da marca também foram destaque pelo incremento de seguidores nas redes sociais. Em relação a 2018, foram 162% a mais no Facebook, 328% no Instagram, e 259% no LinkedIn, rede que já soma 216 mil seguidores e reforça o Sicoob como marca empregadora, com seus 45 mil funcionários. Para 2020, o Youtube ganhará ainda mais atenção, com vídeos que agreguem valor para a vida das pessoas e não apenas façam propaganda ou falem de produtos e serviços. Para facilitar a produção de vídeos, a Confederação estruturou um estúdio com três cenários.

    A comunicação também fez parte da fala de Tatiana Matos, superintendente de Educação Corporativa do Sicoob Universidade: “Precisamos reposicionar nossos comportamentos para que consigamos criar nossa identidade sistêmica e representarmos bem nossa marca e isso só se faz com a conexão entre educação e comunicação. A comunicação está na essência das pessoas, e como somos uma sociedade de pessoas, temos que usar a comunicação como fio condutor para incentivar nossa cultura sistêmica onde todos trabalham por todos”.

    Inovações

    Um dos resultados do esforço coordenado para ampliar a exposição da marca pode ser percebido pelo app Faça Parte, que triplicou o número de downloads em 2019. O aplicativo, inclusive, já respondeu pela adesão de 30 mil novos cooperados, lembrou Angelo Curbani, superintendente de Soluções Corporativas do Sicoob. “Este é um exemplo do potencial do Sicoob enquanto instituição e uma forte marca perante ao mercado. Temos um modelo consolidado do “olho no olho” de relacionamento com nossos cooperados, agora com soluções digitais de relacionamento temos ainda mais capacidade de fomentar o Sicoob como uma efetiva alternativa as instituições financeiras tradicionais”.

    Para Márcio Alexandre, responsável pela Governança de TI da Confederação, “é preciso atuar com equilíbrio entre o analógico e o digital. Os clientes não querem mais esperar. Tudo é imediato e a sociedade vem sendo transformada pela cultura digital”. Márcio trouxe números que demonstram que o Sicoob está caminhando neste sentido: “desde julho de 2014, os canais digitais já estão na primeira escolha dos cooperados”.

    Em sua palestra, Edson Junior, Superintendente de Tecnologia do Sicoob Confederação, destacou que 2019 representou a maioridade de uma ação sistêmica pioneira: a implantação do SISBR. “Lançado em setembro de 2001, este sistema único foi pioneiro no cooperativismo e deu agilidade e robustez à nossa operação”. Antes da implantação do SISBR eram 40 sistemas diferentes e sua criação, com 5 módulos, representa muito mais do que somente um sistema operacional. Este exemplo de inovação faz parte da jornada de transformação digital do Sicoob que incluiu ainda o lançamento do mobile em 2011. É esperado que este canal se torne em 2020 o principal canal de transações dos cooperados. Entre outras inovações de TI destacadas no evento estão a biometria, o saque digital e a plataforma de pagamentos instantâneos, SicoobPay.

    Outro desejo antigo das cooperativas foi o lançamento de um projeto focado em sound branding, que se materializou em 2019 com a Rádio Sicoob, padronizando o som nas agências e que pode ser acessada gratuitamente em sicoob.com.br/radio. E o novo aplicativo, Sicoob Moob, promete melhorar ainda mais a comunicação com os cooperados: possui áreas que serão alimentadas por cada cooperativa localmente e vai permitir, inclusive, a realização de pesquisas e votações, acesso a comunidade de negócios e, brevemente, a funcionalidade de transmissão ao vivo de assembleias e palestras.

    A comunicação e os valores do sistema perpassaram a palestra de Valeska Oliveira, gerente de desenvolvimento de investimentos e previdência do Bancoob: “O Sicoob oferece valor e propósito em cada produto e serviço que oferta e este trabalho precisa vir acompanhado da comunicação”. Para ela, neste cenário de extrema competição, para atrair e manter as pessoas no Sistema, a Comunicação e Marketing são primordiais. “Os produtos trazem competitividade para as cooperativas. Já a comunicação faz a pessoa enxergar a marca. Ambos têm que andar juntos”.

    A participante Roberta Carvalho, gerente geral do Sicoob Servidores, do Rio de Janeiro, se surpreendeu com as novidades trazidas pela especialista em endomarketing, Analisa Brum. “Precisamos aprimorar nossa comunicação interna e manter o discurso alinhado para que nossos próprios colaboradores entendam que não somos um banco e disseminem isso”, disse ao lembrar também que irá levar para a cooperativa a importância de todos entenderem os valores do Sistema. Ela também foi sensibilizada com o movimento Somos Coop, apresentado pela gerente de Comunicação da OCB, Daniela Lemke, e pretende transmitir e engajar os 32 colaboradores da cooperativa neste projeto, por meio de ações de comunicação interna.

    O Carimbo Somos Coop já tem a adesão do Sistema Sicoob e, para Daniela, o movimento está apenas começando, mas brevemente vai ganhar o Brasil com mais cooperativas de todos os ramos adotando o carimbo. “Nós somos grandes e temos valores tão atuais, que todos estão buscando. Só precisamos divulgar mais porque as pessoas fazem escolhas conscientes e só vão escolher e privilegiar os produtos e serviços das cooperativas, se nos conhecerem”. Em sua palestra, Luiz Edson Feltrim, superintendente do Instituto Sicoob, reforçou esta visão ao dizer que as novas gerações – principalmente os Millenials – procuram marcas com propósito e o Sicoob já tem isso. “Com nossa atuação geramos um círculo virtuoso porque promovemos desenvolvimento econômico e social localmente”.

    Na avaliação de um dos participantes, o diretor Administrativo da Cooperplan, Hacmony Amaro, o Sicoob demonstrou que está entregando o que foi planejado e que está melhorando os feedbacks para as cooperativas. “Se não fizer isso, as pessoas vão perdendo o engajamento”.

    Entre outras entregas, o Sicoob Confederação deu novas diretrizes em relação ao Guia de uso das marcas, apresentou uma cartilha de orientação para patrocínios, um regulamento de conduta para uso de redes sociais e um novo portfólio de produtos para serem usados pelas cooperativas. De acordo com Marcelo Vieira, “o padrão visual das PA’s, o atendimento atencioso e um discurso alinhado vão garantir uma percepção mais assertiva dos nossos valores”.

    Sobre o Sicoob – O Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, Sicoob, possui 4,6 milhões de cooperados em todo o país e está presente em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal. É composto por mais de 420 cooperativas singulares, 16 cooperativas centrais e a Confederação Nacional das Cooperativas do Sicoob (Sicoob Confederação). Integram, ainda, o Sistema, o Banco Cooperativo do Brasil do Brasil (Bancoob) e suas subsidiárias (empresas/entidades de: meios eletrônicos de pagamento, consórcios, DTVM, seguradora e previdência) provedoras de produtos e serviços especializados para cooperativas financeiras. A rede Sicoob é a quinta maior entre as instituições financeiras que atuam no país, com mais de 2,7 mil pontos de atendimento. As cooperativas integrantes do Sistema oferecem aos cooperados serviços de conta corrente, crédito, investimento, cartões, previdência, consórcio, seguros, cobrança bancária, adquirência de meios eletrônicos de pagamento, dentre outras soluções financeiras. Mais informações acesse: www.sicoob.com.br.

  • Sobre paradigmas, inovação e o resgate do precedente cooperativo, por Ênio Meinen

    Sobre paradigmas, inovação e o resgate do precedente cooperativo, por Ênio Meinen

    “Troque suas folhas, mas não perca suas raízes. Mude suas opiniões, mas não perca seus princípios.” (Victor Hugo)

    Está correto o diagnóstico que aponta que o cooperativismo financeiro, por aqui, precisa ampliar a sua presença na sociedade, seja pela expansão do quadro social, seja pela densificação do relacionamento negocial com os cooperados. Para assegurar atratividade, terá de melhorar a sua eficiência operativa, racionalizando, consolidando e interconectando as suas múltiplas estruturas de 1º, 2º e 3º níveis (em busca da economia de escopo e do ganho de escala); dar os últimos retoques em seu portfólio comercial; aprimorar os seus processos operacionais, de apoio, de segurança e de acessibilidade ao negócio; qualificar a sua força de trabalho e conferir autenticidade à sua comunicação – deixando de falar como banco e assumindo a narrativa cooperativa. É isso!

    No mais, como solução vanguardista para os cidadãos e empreendedores, o cooperativismo chegou bem antes, precisamente há 175 anos, e mantém-se jovem. Na dicção de Robert Shiller, Prêmio Nobel de Economia em 2013, “o movimento cooperativo constitui uma inovação essencial para uma boa e nova sociedade. É, portanto, uma iniciativa sempre atual para esse propósito, uma vez que, embora reconheça a livre iniciativa, não tem o lucro como objetivo… Cooperativismo é sinônimo de boa sociedade” (pronunciamento durante a Segunda Cúpula Mundial do Cooperativismo. Quebec, Canadá, 7 de outubro de 2014).

    Economia colaborativa, compartilhada ou de rede; capitalismo consciente; nova economia; responsabilidade socioambiental; descentralização; desintermediação; protagonismo do usuário; horizontalização; user centric; customer experience; employee experience etc., muito citados como novidades no ambiente corporativo, não são nada originais para o mundo da cooperação.

    Disrupção, nesse contexto, é a expressão-síntese do momento, e vem associada à seara tecnológico-digital. O cooperativismo é disruptivo desde o seu nascedouro, e o seu pioneirismo, além de mais abrangente e impactante, ainda não foi secundado. Com efeito – e aqui se desconsideram, em razão de seus reais objetivos, por exemplo, as encenações midiáticas de agentes mercantis proclamando-se educadores financeiros –, não se conhece fora da cooperação um modelo organizacional que combine, em equilíbrio, empreendedorismo econômico (progresso material) e desenvolvimento social (cidadania). Vale lembrar que o protagonismo cooperativo, ao promover a inclusão (especialmente em comunidades remotas e low tech) e a distribuição de renda, gerando valor compartilhado, é fundamental para mitigar o crescente processo de concentração de riqueza, que, por sinal, se acentua com a “revolução” tecnológica. Em síntese, cooperativismo é a equação da economia social ou, por outra, o expoente da economia solidária.

    Mas, se quisermos falar em precedência no campo tecnológico, o cooperativismo financeiro também tem suas contribuições. Chegou antes de todo mundo, por exemplo, no acesso a extratos e consultas de saldos por meio do Facebook e na identificação biométrica para utilizar o mobile banking, além de, neste momento, estar no pelotão de frente dos instituidores da rede blockchain do sistema financeiro nacional (RBSFN). Tudo o mais para uma boa experiência do usuário/cooperado ou as cooperativas financeiras já dispõem, ou estão em vias de ter, pois a imitação nesse campo é muito simples e usual… A única diferença, tomando como referência a capacidade de investimento, é o fato de as cooperativas fazerem mais com muito menos (a relação é de R$ 1,00 para R$ 10,00 dos gigantes da indústria) e, por vezes, melhor – alguns de seus aplicativos, como os apps bancário e de gestão de cartões, estão entre os mais bem avaliados do mercado. Portanto, pode-se afirmar que até mesmo nesse particular são inovadoras!
    Em termos de ineditismo operacional, e apenas para mencionar um exemplo, recentemente se anunciou como novidade – no interesse dos portadores –, por imposição normativa oficial, a conversão das transações internacionais com cartões pelo dólar do dia da compra. No cooperativismo financeiro, que efetivamente se volta para o interesse dos seus usuários (cooperados), essa prática já tem mais de dez anos!

    Cashback. Eis, também, uma suposta “revolução” no segmento bancário, proclamada por uma das mais badaladas instituições digitais entre nós. A “invenção” consiste na devolução, em espécie, de parte de tarifas e comissionamentos de transações financeiras, uma vez cumprida uma lista interminável de pré-condições. Ocorre que as cooperativas, a partir da concepção, em Rochdale, têm na sua essência o partilhamento integral e incondicional do resultado, direta ou indiretamente, com aqueles que geram o excedente e na proporção que o fazem, sem contar a prática da justa precificação já na contratação das operações e dos serviços.

    Crowdfunding é como foi (re)batizada a iniciativa para a mobilização coletiva de recursos destinados a projetos econômicos e sociais. No cooperativismo, desde 1.844, essa ação – que se confunde com a própria cooperação – leva o nome de ajuda mútua.

    Suitability (associado à política do “conheça seu cliente”) e disclosure são virtudes muito invocadas atualmente, dadas algumas práticas desleais no mercado financeiro, seja em relação aos usuários, seja na relação concorrencial. O exemplo último é o que envolve a adquirência bancária (maquininhas de cartões). No cooperativismo, dado que o cliente é o dono do negócio, e a transparência um de seus valores universais, não se cogita impingir soluções que não se adequem às necessidades e às condições do tomador, e muito menos disseminar inverdades.

    Ainda nessa linha, fala-se agora em foco DO cliente (em vez foco NO cliente). Há bancos mudando até mesmo o conceito mercadológico, para dar a impressão de que o cliente, agente passivo/coadjuvante por definição, terá alguma voz. Ora, no cooperativismo o foco sempre foi DO cooperado (sem negligenciar o caminho inverso), uma vez que ele é o dono do empreendimento.

    Accountability é outro atributo que vem sendo enaltecido como elemento virtuoso na cultura organizacional. No cooperativismo, a ética, a responsabilidade pessoal e a prestação de contas assumem relevância tal a ponto de integrar os direcionadores doutrinários do movimento, compondo o rol de valores da causa.

    Stakeholders, já não tão recente, é também vocábulo bastante recitado entre nós quando nos referimos ao público de interesse da/na empresa. O cooperativismo, preocupado com o seu entorno desde sempre, tem uma designação própria para o seu mundo relacional, inclusive versada na língua pátria. Trata-se do interesse pela comunidade, o 7º de seus princípios universais.

    Ownership, por fim, também vem permeando, com recorrência, o vocabulário corporativo. Não faz muito, uma conhecida empresa da área bancária, “inovando” em suas práticas de empoderamento, doou algumas ações a funcionários, esperando maior engajamento com vistas a melhorar a experiência relacional com os clientes. Parece que não deu certo… Do lado do cooperativismo financeiro, os funcionários, todos, desde que ingressam nas entidades, são coproprietários – em igualdade de condições com os demais cooperados –, assumindo naturalmente a condição de pertencimento.

    Estes são apenas alguns exemplos de expressões, ações e movimentos saudados como inéditos, mas que no mundo cooperativo já vêm conhecidos, e aplicados, de longa data.

    Não podemos, é claro, acomodar-nos ou inebriar-nos com o que já conquistamos. Devemos estar receptivos ao novo, especialmente sobre o “como fazer”, assimilando a transformação digital em curso (tsunami high tech), internalizando e aprimorando processos e modelos de negócios que impliquem melhores experiências para os cooperados – mas sob a ótica e a escolha destes (donos experience, que também devem ter a opção high touch!) –, sem o que não evoluiremos e nem caminharemos, pessoalmente e com as nossas instituições, para o futuro. Também temos de reconhecer, e enaltecer, o esforço dos atores cujas receitas, hoje, reeditam as quase bicentenárias práticas cooperativistas para a edificação de um mundo melhor.

    Mas se rever a forma é essencial para o nosso negócio, preservar o DNA (da cooperação) – particularmente no que se refere ao compromisso com a prosperidade econômica e o desenvolvimento social nos territórios e de seus públicos – é fundamental, mesmo porque não passível de digitalização, robotização, automatização ou reprodução por qualquer forma. Ou seja, não corre o risco de virar commodity… Além disso, estamos falando de uma proposta que tem a simpatia de 1 entre cada 6 habitantes do Planeta; que só nos Estados Unidos conquista 4,5 milhões de membros a cada ano apenas no segmento financeiro e que emprega 20% mais trabalhadores que a soma das multinacionais ao redor do mundo. Certamente, o mutualismo cooperativo não é uma ideia ultrapassada, mas a própria, substancial e permanente inovação!

    Os que operamos no meio não podemos deslumbrar-nos com os alaridos modistas (hypes, buzzwords…); guiar-nos simplesmente pelas fórmulas e soluções-padrão ditadas em atacado; curvar-nos incondicionalmente diante dos profetas do futuro – não raro, por nós regiamente remunerados para adivinhar o que supostamente vem por aí… –, ou aderir imprevidentemente ao livro-texto e aos best-sellers da hora. Muito menos, aceitar a ideia de que o “novo” (fintechs, bigtechs, beBanks, bancos digitais, Alexas, Bias e outros componentes do universo inorgânico e selfservice) desqualifica as instituições (financeiras) cooperativas ou as levará à morte.

    Precisamos – sobretudo, eu diria – (re)aprender e apreender o cooperativismo, propósito em si; simples, inclusivo, justo, acessível (até mesmo na linguagem) e, reitere-se, sempre contemporâneo – basta um olhar para a Agenda BC#, do Banco Central do Brasil … –, porquanto centrado nas pessoas, ativo resiliente e que jamais deprecia. Além de pouco conhecê-lo, alguns de nós, lamentavelmente, ainda lhe temos preconceito.

    É nosso dever, a toda hora e em todo lugar, evidenciar, incentivar e, mais que isso, exercitar as características e os precedentes do nosso modelo societário e operacional, pois essa é a nossa identidade, o que nos torna únicos, verdadeiramente originais. Enfim, não podemos colaborar para o triunfo da concepção mercantil, ou converter-nos em uma mera plataforma digital – mais do mesmo! Como ensina a canção de Nando Reis, se formos como os outros, todos iguais, “nossos rostos singulares haverão de se tornar vulgares em meio à multidão”.

    Portanto, voltando ao início, preservemos o conteúdo, falemos mais sobre nós e, para “surfar a onda”, atualizemos a forma. Isso nos manterá à frente!

    ————————————-

    Ênio Meinen, coautor (com Márcio Port) do livro Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios, e autor de Cooperativismo Financeiro: virtudes e oportunidades. Ensaios sobre a perenidade do empreendimento cooperativo, livro este também versionado no idioma inglês sob o título Financial cooperativism: virtues and opportunities. Essays on the endurance of cooperative entreprise (todos da editora Confebras, lançados em 2014, 2016 e 2018, respectivamente).

    Nota: Este texto, do qual sou mero porta-voz, foi construído a muitas mãos, sendo fruto de um verdadeiro protagonismo coletivo. Grato a todos que, direta e indiretamente, cooperaram!

  • Cooperativismo amplo, geral e irrestrito, por Luis Claudio G. F. Silva

    Cooperativismo amplo, geral e irrestrito, por Luis Claudio G. F. Silva

    A capacidade que distinguiu e fez o homo sapiens se destacar como o ser vivo mais eficiente do planeta foi a cooperação. Somos capazes de cooperar entre si de uma maneira tão abrangente e extraordinária que nenhum outro ser vivo, nem mesmo formigas e abelhas – exemplos de cooperação – conseguem nos acompanhar. Por conta desses atributos, desde os primórdios os seres humanos se destacaram e há milhares de anos são soberanos neste mundo.

    Há quem imagine que os humanos são superiores por conta de sua elevada inteligência, mas QI elevado sem a capacidade inata de cooperação não nos levaria a lugar algum. A humanidade não teria qualquer chance de êxito, mesmo com inteligência superior, diante da força e precisão de predadores muito mais habilidosos e preparados para se destacar na vida selvagem.
    Lobos, por exemplo, são altamente eficientes na caça por saberem trabalhar de maneira cooperada. Mas lobos possuem uma capacidade limitada de cooperação mútua. Não conseguem cooperar entre os bandos nem tampouco em uma escala global. Já os humanos superaram todos os demais animais neste quesito, com a tecnologia romperam todos os limites, e hoje são capazes de cooperação massiva entre milhares de pessoas ao redor de todo o mundo.

    A cooperação, portanto, contribuiu para o êxito da humanidade. E vai contribuir cada vez mais. Quanto mais cooperarmos entre si, maiores serão nossas chances de êxitos, inclusive, para solucionarmos problemas criados por nós mesmos. Se o mundo precisa agora ser mais sustentável, o caminho mais correto e rápido para se chegar a isso é, inexoravelmente, por meio da cooperação.

    Sabemos, há milênios, que não existe vitória solitária. A evolução só é possível com a cooperação. E nós, de MundoCoop, trabalhamos ininterruptamente neste sentido. Nosso objetivo é disseminar, compartilhar, divulgar e, sobretudo, cooperar para que o cooperativismo seja compreendido e assimilado pelo maior número possível de pessoas. Entendemos que a cultura cooperativista deve ser propalada e estar ao alcance de todos. E sabemos, por longa experiência, afinal estamos há quase vinte anos cobrindo este setor, que ainda há muitas dúvidas sobre as cooperativas no Brasil. Na Europa, por exemplo, o conceito está há séculos arraigado e valorizado, aqui, por questões culturais e, também, políticas, as cooperativas ainda esbarram em preconceitos por conta da falta de conhecimento das pessoas em geral.

    Mas não há outra chance de êxito social e econômico no Brasil sem cooperação ampla, geral e irrestrita entre as pessoas. Exatamente por isso que MundoCoop, mais do que uma mídia especializada neste setor, assume a responsabilidade de reverberar a cultura cooperativista para todos os brasileiros. Vamos atuar em todas as plataformas de mídias com a revista, com fortalecimento de nosso canal no Youtube – em breve com a MundoCoop TV -, com forte atuação nas redes sociais, realizando palestras, fóruns de discussões e participando ativamente de grandes eventos nos mais variados setores.

    Estamos arregaçando as mangas para mostrar aos brasileiros o que a raça humana já compreendeu desde seus primórdios: sem cooperação estaremos fadados à extinção!

    Luis Claudio G. F. Silva é Diretor da MundoCoop, palestrante, consultor e cooperativista.

  • Cresol passa atuar como agri-agência de organização europeia

    Cresol passa atuar como agri-agência de organização europeia

    Durante este mês de novembro a Cresol foi confirmada como uma nova parceira da organização europeia AgriCord, rede de “agri-agências” – organizações não governamentais de cooperação. O anúncio foi feito pelo presidente da AgriCord, Jean François Isambert, durante a assembleia realizada no dia 16 de novembro, em Bruxelas na Bélgica.

    A Cresol atuará, por meio do 45 como uma das agri-agências contribuindo a partir do cooperativismo solidário. De acordo com o diretor do Infocos, José Vandresen, a rede de agri-agências é uma estratégia de articulação mundial que tem o objetivo de apoiar o desenvolvimento de regiões de países que enfrentam dificuldades sociais e econômicos. “As agri-agências têm como orientação trabalhar com os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável para o milênio que a ONU determinou. O Infocos se propôs a fazer o que é a sua expertise, que são os processos de formação, com foco na organização de cooperativas para regiões menos favorecidas superarem os desafios sociais e econômicos”, destaca Vandresen.

    Para o Presidente da Cresol e do Instituto Infocos, Alzimiro Thomé, essa parceria é muito importante, pois a Cresol nasceu com o apoio de uma agri-agência. “O Trias, que também é uma agri-agência, teve uma contribuição muito grande para o nascimento do nosso sistema, e agora a Cresol conseguiu credenciar parte de sua organização como uma agri-agência mundial que inicia com uma contribuição para a superação das realidades destacadas pela ONU, através dos objetivos do desenvolvimento sustentável”, pontua Thomé.

    Sobre a AgriCord

    Criada em 2003, a AgriCord é uma rede de “agri-agências” – organizações não governamentais de cooperação – que visa minimizar a pobreza e integrar organizações de agricultores da Bélgica, Canadá (Quebec), Finlândia, França, Itália, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia e agora o Brasil. A entidade coopera com organizações de mulheres rurais, jovens agrários, cooperativas e empresas agrícolas. Atualmente existem 14 agri-agências participantes na AgriCord, sendo que o Instituto Infocos é a primeira na América Latina.

  • Intercooperação: não basta pregar!, por Ênio Meinen

    Intercooperação: não basta pregar!, por Ênio Meinen

    “Retenham bem essa máxima: quando a cooperativa for apenas mais um negócio, será um mau negócio, porque nesse plano será sempre derrotada pelas empresas capitalistas.” (Charles Gide, doutrinador cooperativista)

    A doutrina condutora do movimento cooperativo ao redor do mundo, como é de amplo domínio, assenta-se em sete princípios, universalmente consagrados e largamente difundidos.

    Entre eles – 6º da lista – está o da Intercooperação, inicialmente ungido como tal em 1966 (Congresso de Viena da Aliança Cooperativa Internacional – ACI), então assim versado: “Ativa cooperação entre as cooperativas em âmbito local, nacional e internacional”. Já o texto vigente foi definido em 1995, durante o Congresso da ACI em Manchester, com o seguinte teor: “As cooperativas servem de forma mais eficaz aos seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.”

    Em tradução direta e simples, esse postulado indica que as cooperativas hão de cooperar entre si. E devem assim agir tanto para habilitarem-se ao uso da identidade “cooperativa” como para darem o exemplo à sociedade. Afinal, com que legitimidade uma cooperativa poderia conclamar alguém a fazer parte de seus quadros se ela própria não praticasse a cooperação? Nessa hipótese, estar-se-ia diante da máxima faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.

    A intercooperação pode ser horizontal ou vertical. No primeiro caso, também conhecida como territorial, ocorre quando há relacionamento entre entidades de ramos diferentes (ex. cooperativas agropecuárias tomando serviços de cooperativas financeiras) ou de um mesmo ramo (ex. entre cooperativas financeiras, usualmente de sistemas diversos, ou cooperativas da área da saúde, compartilhando infraestrutura local ou prestando serviços aos cooperados ou clientes de entidades coirmãs). Já a intercooperação ou integração vertical pode envolver cooperativas de um só segmento, quando reunidas em torno de estruturas regionais e/ou nacionais, nesse caso também designada cooperação intrassistêmica (ex. sistemas cooperativos financeiros de dois ou três níveis), ou cooperativas de diferentes ramos, igualmente ligadas por arranjos regionais, nacionais e internacionais (ex. sistema OCB/Sescoop e ACI).

    Há, ainda, um terceiro modelo de intercooperação, classificado como cooperação intersistêmica, que envolve grupos de cooperativas em formato sistêmico ou de empresas corporativas desses arranjos coletivos compartilhando portfólio, atividades, projetos e ações com outros grupos ou sistemas cooperativos do mesmo segmento (ex. parcerias comerciais de bancos cooperativos com cooperativas financeiras de outros sistemas).

    As motivações para essa mútua ou múltipla colaboração, em parte já mencionadas na própria formulação do princípio (servir de forma mais eficaz o cooperado e elevar o ecossistema cooperativo), têm a ver com:

    • fortalecimento individual das cooperativas como empreendimentos locais/comunitários, cujo quadro social, muitas vezes, é comum (ex. cooperativas agropecuárias ou cooperativas da área da saúde e cooperativas financeiras). Essa aproximação também dá efetividade ao 7º princípio, porquanto gera um conjunto de benefícios à comunidade, impulsionando a criação de novos empregos, a expansão da renda e as ações de cidadania;
    • ganho de escala pela ampliação do volume de negócios, que permite reduzir preços e/ou aumentar a remuneração dos produtos e serviços fornecidos aos/pelos cooperados;
    • redução de gastos com custeio e investimentos pelo compartilhamento local (inter ou intrarramos) de estruturas e de dispêndios com programas sociais, publicidade, eventos comuns, entre outros, e redução de preços em decorrência do maior poder de negociação (compras em comum, por exemplo);
    • economia de escopo (administrativo-operacional), ganho de escala, qualidade das soluções, acesso a novas tecnologias/novos negócios e expansão de mercados pela verticalização de atividades em âmbito regional ou nacional, inclusive entre sistemas cooperativos diferentes;
    • o fato de empresas convencionais acentuarem a cooperação entre si, para tornarem-se mais competitivas (e lucrativas). É o caso, por exemplo, dos gigantes da indústria bancária, que se uniram para estruturar birô de crédito comum, compartilhar ATMs e criar várias empresas/soluções conjuntas na área de meios eletrônicos de pagamento.

    Essa é a teoria. Mas como andamos na prática? E por quê?

    No que se refere à integração vertical, o cooperativismo financeiro está na dianteira, sendo referência para os demais ramos cooperativistas do país, além de já assumir um certo protagonismo na cena internacional. Contudo, há um conjunto de oportunidades para o aperfeiçoamento e a consolidação do modelo, notadamente pela racionalização de estruturas, soluções/serviços/atividades e componentes organizacionais recorrentes/paralelos entre cooperativas singulares, centrais, confederações e bancos cooperativos. Da mesma, há que se cogitar de novas aglutinações, tanto em sede de cooperativas singulares como ao nível de centrais, reduzindo o número de entidades hoje existentes. Outro potencial pouco explorado é o da intercooperação entre os diversos sistemas cooperativos (cooperação intersistêmica), que hoje, afora o compartilhamento (por força regulamentar) do FGCoop e de ações institucionais no âmbito da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), limita-se às parcerias entre os bancos cooperativos e cooperativas financeiras de outros sistemas.

    Fora do ramo crédito, a colaboração intrassegmentos, no geral, é ainda muito tímida. Há, entretanto, destaques isolados, como algumas iniciativas de cooperativas agropecuárias, que se vêm unindo em estruturas comuns regionais para ganho de escala, qualificação de soluções, ampliação de portfólio e conquista de novos mercados (ex. Aurora/SC e Unium/PR), bem como de cooperativas da área da saúde, com o objetivo de facilitar a utilização recíproca de serviços (ex. Unimed e Uniodonto).

    Abro, aqui, um parêntese para uma rápida, mas relevante, alusão à solidariedade como um dos compromissos da intercooperação intrassistêmica e intersistêmica. Com efeito, é dever indeclinável de todos impedir que cooperados venham a ter prejuízo em razão do insucesso de alguma cooperativa. Nessa hipótese, havendo indicativos concretos de descontinuidade, a incorporação ou a reorganização, com apoio financeiro se necessário, deverão ser as alternativas a considerar. É uma questão, também, de preservação do bom nome do movimento, e não apenas de proteção de uma determinada marca, uma vez que o problema que afeta a um atinge a todos. O foco, portanto, não devem ser os administradores da entidade, o empreendimento em si ou mesmo o sistema associado, mas as pessoas que acreditaram na proposta da cooperação. Neste particular parece remanescer dúvida sobre o papel de cada ator e o grau de responsabilidade do conjunto. A expectativa, portanto, é de que, sem demora, esse tema seja suficientemente debatido e bem compreendido, tendo, no caso do cooperativismo financeiro, o FGCoop e as instâncias corporativas intrassistêmicas como fóruns ideais.

    No que diz respeito à prática da intercooperação horizontal inter-ramos, a escassez é bem maior, embora igualmente haja alguns bons exemplos de aproximação, sobretudo de cooperativas agropecuárias e do segmento da saúde com cooperativas financeiras (no último caso a colaboração é, inclusive, recíproca). Com esse preocupante desalinhamento filosófico, as cooperativas renunciam a oportunidades claras de multiplicação dos seus negócios entre elas, limitando o protagonismo cooperativo nos respectivos mercados e no contexto socioeconômico nacional. E mais: contribuem para a evasão de riquezas nas comunidades em que atuam, prejudicando os interesses dos próprios cooperados e da população local como um todo, o que, por sinal, atenta contra o .
    O grande intervalo entre o ideal e o real, aliás, não é exclusividade do Brasil. Em muitos países lideranças cooperativistas e estudiosos da cooperação buscam entender o quadro e propor encaminhamentos para a questão. É o caso, por exemplo, dos Estados Unidos, onde, recentemente, representantes do instituto Filene e da Cuna (Associação Nacional das Cooperativas Financeiras) publicaram amplos relatórios sobre o tema, tendo como alvo o relacionamento entre as cooperativas financeiras e entidades coirmãs de outros ramos.

    Em síntese, lá e cá, temos sido muito contundentes na defesa do princípio, mas bem menos efetivos na sua observância. É dizer: no discurso, estamos bem; na ação, nem tanto!

    Entre os ofensores da baixa intercooperação territorial sobressaem:

    • a inexistência de pauta institucionalizada para esse propósito em âmbito nacional ou mesmo regional;
    • o escasso diálogo entre os líderes das cooperativas e, em alguns casos, o excesso de atores envolvidos;
    • a falta de definição clara dos objetivos e dos meios para o seu alcance;
    • a pouca confiança entre os dirigentes;
    • o portfólio e as condições comerciais, lembrando que o relacionamento operacional entre as cooperativas, no seu conjunto, deve ser economicamente atrativo;
    • a rivalidade regional (visão mais de competição do que de cooperação, envolvendo até mesmo preconceito em alguns casos);
    • a comparabilidade adversa (desqualificação da entidade coirmã e/ou de seus representantes);
    • a baixa dominância sobre os efeitos (positivos da intercooperação e negativos do isolamento);
    • o individualismo (cada qual pensando apenas em “sua” entidade, ou mesmo em si próprio, inclusive com vantagens pessoais em relacionamentos fora do universo cooperativo, enquanto os interesses do cooperado ficam em segundo plano);
    • fatores político-ideológicos;
    • a acomodação e o descompromisso de lideranças em relação à própria entidade e ao movimento cooperativo;
    • o ego e a vaidade, ora de dirigentes, ora de executivos.

    É importante que se diga, a esta altura das reflexões, que este assunto é recorrente em fóruns cooperativos por todo o país (e fora do Brasil). As impressões ora lançadas, em grande medida, são um apanhado do que publicamente se vem falando a respeito. Consolidar as críticas e ampliar o espectro de sua repercussão, portanto, atendem a anseios generalizados do movimento, notadamente como estímulo para a busca de soluções.

    Mas e o que poderia ser feito, concretamente, para a modificação desse quadro?

    O avanço no processo de intercooperação, aqui como em qualquer lugar do mundo, pressupõe, de um lado, atitudes firmes das lideranças, e, de outro, movimentos simples e de fácil implementação, tais como:

    • definição de uma agenda para o tema pelos representantes dos ramos, sob a mediação do sistema OCB, tanto em âmbito nacional como no plano regional (comitê intersetorial?)
    • instituição, por ramo, de mecanismo de acompanhamento da agenda;
    • ações conjuntas em projetos econômicos, sociais, ambientais e educacionais; comunicação/marketing; palestras e seminários; eventos de capacitação; compras; infraestrutura; logística etc.
    • fomento à mútua filiação de cooperados e empregados (na Finlândia, por exemplo, o número de cooperados equivale a 1,5 vez os habitantes do país, justamente porque há filiação simultânea em cooperativas de diferentes ramos);
    • incentivo – até mesmo como condição do negócio – para que os fornecedores e demais parceiros do universo cooperativo utilizem as cooperativas de crédito como seus agentes financeiros;
    • utilização da solução cooperativa pelas entidades coirmãs (serviços financeiros, planos de saúde, trabalho, transporte, supermercado/itens alimentares etc.). A propósito – e a título de exemplo –, dispondo as cooperativas financeiras de todas as soluções bancárias, e as oferecendo em condições de preço mais benéficas, o que justifica as demais cooperativas, seus cooperados, empregados e fornecedores/parceiros utilizarem os produtos e serviços equivalentes de um banco!?
    • estudos pelo Sistema OCB demonstrando os benefícios e as oportunidades da intercooperação horizontal e vertical, podendo cogitar-se, dada a dimensão das oportunidades e dos seus efeitos, da alocação de componentes organizacionais específicos para cuidar do tema.

    Em território brasileiro, no momento em que a sociedade, sob os efeitos de uma crise ética e econômica sem precedentes, clama por mudanças; aspira a algo novo, diferente; reivindica justiça socioeconômica …, o cooperativismo – solução do bem, por definição – encontra, como jamais encontrou, um ambiente amplamente favorável para alargar a sua presença. Para isso, no entanto, o movimento precisa estar unido e fortalecido!

    Enfim, devemos acentuar a aplicação – lembrando que a ausência da prática equivale ao desprezo da teoria – dos ideais cooperativos, não deixando que se perpetuem cenários destoantes dos fundamentos e dos propósitos da causa. Do contrário, voltando à advertência de Charles Gide, declinando dos seus diferenciais e, por conseguinte, das suas principais virtudes, fatalmente chegará o dia – para algumas entidades este dia já chegou – em que “cooperativas” não passarão de empresas tradicionais. E, nessa condição, ao renunciarem ao movimento, fragilizam-se como empreendimentos socioeconômicos e perdem a legitimidade de ostentar a identidade mutualista.

    “La fórmula del hombre que quiere triunfar: no luchar en solitario.” (Pe. Arrizmendiarreta, fundador do grupo cooperativo Mondragón, na Espanha)

    Ênio Meinen, professor convidado da USP, FGV e de outras entidades acadêmicas para cursos de pós-graduação; coautor (com Márcio Port) do livro Cooperativismo financeiro: percurso histórico, perspectivas e desafios, e autor de Cooperativismo Financeiro: virtudes e oportunidades. Ensaios sobre a perenidade do empreendimento cooperativo, livro este também versionado no idioma inglês sob o título Financial cooperativism: virtues and opportunities. Essays on the endurance of cooperative entreprise (todos da editora Confebras, lançados em 2014, 2016 e 2018, respectivamente).